Tuesday, November 07, 2006

DOIS POEMAS DE DONIZETE GALVÃO


ORAÇÃO NATURAL

Fique atento
ao ritmo,
aos movimentos
do peixe no anzol.
Fique atento
Às falas
das pessoas
que só dizem
o necessário.
Fique atento
aos sulcos
de sal
de sua face.
Fique atento
aos frutos tardios
que pendem
da memória.
Fique atento
às raízes
que se trançam
em seu coração.

A atenção:
forma natural
de oração.

Donizete Galvão, em “Mundo mudo”


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LEMBRANÇA de SEVERO SARDUY

Ao ferir
com a tesoura
a haste
da manga,
escorre
o líquido,
visco
oloroso
prenunciando
nas ventas
o doce gozo.
Antecipação
do paraíso
na tarde calorenta
do gelado
suco de manga
deslizando
na garganta.


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Dedicado ao único blogger que - uma honra para mim - colocou este blog entre seus preferidos.

Obrigada ao poeta Henrique Manuel Bento Fialho.
De facto, tudo o que gostaria de ser era ou ser irônica, mordaz e sarcástica como a Cynthia do Cyncity ou então gostar e saber muito a respeito da POESIA e tudo que é circunvizinho a ela, como HMBF sabe.

Obrigada.
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Sobre Donizete Galvão:
Este excelente poeta, que não é mais conhecido porque não é dado a badalações literárias, ou extra-literárias, Donizete Galvão nasceu em Borda da Mata, MG; é jornalista e publicitário, autor dos livros de poesia:
Azul navalha (1988), TA Queiroz Editor, Prêmio APCA de Revelação de Autor e indicação para o Prêmio Jabuti),
As faces do rio (1991, Água Viva Edições),
Do silêncio da Pedra (1996, Arte Pau-Brasil),
A carne e o tempo (1997, Nankin) e
Ruminações (1999, Nankim).

A sua página pessoal na Web (Internet) é esta: DONIZETE GALVÃO